De vida

Sua vida devida
Seu seguro de vida
Sua razão comedida
Com a dada medida
De uma luz que convida
A ver uma vida colorida

O lobo solitário

Você sai de casa com um único pensamento: não encontrar alguém conhecido. Caminha da sua casa, no seu bairro até o centro. Passa por inúmeros desconhecidos na rua. Os carros dominam o sentido da paisagem, movimentando-se para um lado e para o outro. Alguns não respeitam as normas de trânsito. Mas você os desculpa no seu caminho para o banco. Na agência, você retira seu dinheiro e se sente satisfeito por possuir alguma coisa em meio ao cenário social de desigualdade. Não é muito dinheiro que você tem, e você tira um pouco para comprar um cigarro e uma cerveja. Enquanto fuma e bebe no bar perto do banco, você vê as pessoas, com seus rostos de paisagem, e tudo parece mesclar-se em algo sem sentido. Viver, nesse momento, parece-lhe apenas uma tarefa para se passar o tempo. Você fica ali, fumando e bebendo.

Água gelada

Você quer água gelada, meu amor?
Eu te dou água gelada
Eu te sirvo o melhor copo da casa
Para você beber sua água
Se quiser, faço o favor
De te servir água gelada
Basta dizer se você quer meu amor
Ou se só quer minha água

Pirâmide

Estando eu só

Ou estando ao seu lado

Vale seguir a sabedoria

Antes só do que mal acompanhado

Naquilo que vale ser um só

É de se considerar todo o agrado

Que parte da verdade do ser

Quando se quer alguém do seu lado

Porque a conquista

Do seu bem esforçado

Realiza a mim só

Se eu caminho realizado

Gosto só da vida

E estando acabado

Vale repetir em sintonia

Tudo o que foi desejado

Meu marco ao céu

Que lhe será ofertado

É o que conheço de mim

E que estará ao seu lado

De modo que, estando só

Sem ter algo guardado

A solidão há de ser uma guarida

E não um martírio elaborado

.

Diga a quem quer que queira

Que a vida é boa

Que a vida é minha

Soneto da humildade

Se o encanto da vida é gratuito
Se só se encanta quem sabe ser
Digo ser com o ser de querer
Que se encontra além do fortuito

Dispõe e considera o impulso mínimo
De se conduzir e portar-se com virtude
De certo, essa é a melhor atitude
Para equivaler-se com o Absoluto em ânimo

Se a gratuidade se revela em liberdade
Considera livre o dever de bondade
E afasta, com vigor, o maligno

Para poder ser e agir com naturalidade
Na justa e permanente medida da verdade
Que forja e aconchega o ser digno

.

Se você é feito do que encontrou por aí
Sua fé caminha por onde te mandam ir
Se você não tem luz interior
Sua fé não brilha, e é apenas
A execução do comando da morte
Que paira sobre todos, e é apenas
Um caminho que te mandaram seguir
Se sua fé flerta com o mal, e é apenas
Algo que se encontra por aí

.

Eu sei
De tudo eu sei
Porque tudo se revela gratuitamente
O que eu não sei
É apenas o que ainda não sei
Ou prefiro pensar que não quero saber
Sei tudo
Porque tudo é simples
A vida é tudo
Caminha em minha direção
Saber da vida é apenas recebê-la

Entretempos

Ela entra em modo automático
E passa a agir por manutenção
Diz que eu sou cético
Se não concordo, sou antipático
Mas ela não consegue segurar minha atenção
Eu exploro o infinito do mundo fático
Ela acha que sou exótico
E só faço esperar um adendo lógico
De participar de sua paixão
Se ela me vê como muito eclético
É porque tenho muita opção
Distraído no momento hipotético
De esperar o momento autêntico
Para vê-la entrar em ação

Fanta Framboesa

Não quero essa sobremesa
Quero Fanta Framboesa
Mas que indelicadeza
Me dê Fanta Framboesa
Ponha as cartas sobre a mesa
Com a Fanta Framboesa
Faça mais uma proeza
Faça Fanta Framboesa
Tem sabor de gentileza
Minha Fanta Framboesa
Deixe de vagareza
Beba Fanta Framboesa

Chuva

A chuva não me trouxe reflexão
Verticalidade descendente
Choveu, é verdade
Mas foi só chuva
Outra etapa do ciclo da água
Outro fato recorrente
Sempre chove, é verdade
É a mesma água chovendo desde sempre

Diabo

O sujeito fez um apelo
Pela majestade da vida
Com seu desígnio de destruição

O sublime se subjugou
Tirando a majestade da vida
Para a iniquidade roubar um coração

A realidade manifesta
Sem majestade de vida
Fervia em sua suja emoção

Fingindo tentar ser o que não é
Invejando a majestade da vida
Que caminha em uma só direção

Coroavam uma existência errada
Pela majestade da vida
Os espectros da corrupção

Pela fraqueza e pelo fracasso
De saber da majestade da vida
Que, então, só ama o que não é pronunciação

Estado civil

Para não ser uma variável
No percurso de morte e vida
Não procuro futilidades
Como carinho para o ser carente
Como atenção para o ser difuso
Mas não sei dizer o que procuro
Pois não sei o que está disponível
Nessa realidade de dor e confusão
Em que se buscam uma vã satisfação
Para ser taxado de normal
Minha exaltação visceral
Busca mais que o aprazível
Mais do que a síntese da morte
Para não ser uma mera estatística
Para ser excelente em saber
Que uma companhia de parceria
É mais do que cumprir um papel social
É aventurar-se no íntimo da vida

.

Cintilantes centelhas
De uma possibilidade
Não acompanham a verdade
De uma vida em absoluta parelha

Cintilantes centelhas
Que não são equivalentes
Ao amor expoente
Com a paz que se espelha

Centelhas brilhantes
Não levam adiante
A vontade que cintila

De um ato que exila
Um amor sem razão
Preso a centelhas de paixão

Encontro

Almejando qualquer ânimo de vida
Para conhecer amores permanentes
Que acompanham desígnios de elevação
Revelando propósitos em sinergia
E almas com vida em essência
Pela franqueza própria da distinção
Como interagem interesses recíprocos
Na partilha de um abraço gracioso

Jardineiro

Foi-se a foice no jardim
Capinando tédio em cantos
Pelos cantos do jardim

Foi-se embora o tédio
Capinando a ignorância
Que refestelava em abundância

Pelos cantos do jardim
Surge a sabedoria
Acompanhando as flores que planto

Novamente, em outro canto
Planto amor em demasia
Porque amor é difícil de dar

.

Não se deixe levar
Pelos acontecimentos
Que trespassam momentos
De pura lucidez

Não se esqueça do amor
Que passa em furor
Fulgurando a sensação
Em cada sentido da tez

Fazer mais do que se fez
É a lida da sua vida
Não se deixe levar
Pela insensatez

.

Uma nuance de querer
O melhor que eu posso ser
Para poder ver e ter
O melhor que aparecer
Sem, com isso, esquecer
De louvar e agradecer
O melhor que é viver

Crocodilo

Essa é uma vida
Que do amor duvida
Da autonomia fugida
Que se faz de bandida
De vulgar medida
E bizarrice adquirida
Por nunca ter sido sabida
De algo que é só ida
Para se praticar a lida
Com sinergia agradecida
Fornecer a comida
E a transcendência devida
Quando a corrupção for exaurida

Blueprint

Minha unidade na unicidade do todo
Minha definição na realidade da vida
Meu posicionamento na consciência universal
Como tudo se transforma na grande informação
Meu argumento, minha razão
Minha passagem pelo mundo
Quando tudo é ser e saber
Na questão universal de ser vivo
Da relevância sublime do ato
Do ato e da vida
Que se resume em viver
Pelo que vivo em minha existência

Inapto

A mocinha te traiu
Fazendo feio
Já que o seu receio
Era não ter papel

Sua postura foi displicente
E a reação incoerente
Que você tanto esperava
Não te trouxe o mel

Você mostrou seu desejo
Aquilo que em ti ardia
E por isso o seu ensejo
É fazer covardia

A gaiola que estava repleta
Para fazer outra festa
De pronto se dispersou

A noite que era um agrado
Para o bem labutado
Você não sonhou

.

Saber da vida
E discernir entre a vida e a corrupção
Tornar-se vida plena
Para o próprio ser
Ter-se, enfim
Repleto de si
Para o próprio bem
Onde o fracasso da vida não alcança
Quem sabe da vida e de si

.

Repetindo girassóis
Que não exalam perfume
Porque não há demanda

Negado

Porque é de plástico
Esse seu deserto
Que não é por certo
Minha solidão

É anormal
Essa condição
De só ter razão
Quando mensurado

Porque é normal
Minha ambição
De fazer exclamação
Quanto ao que há de errado

Do estático
Que se diz causa de todos os movimentos
Um deserto plástico
Quisto de negação

Currículo

Alocado no éter
Posicionado no equilíbrio
Corpóreo no espaço
Único no metabolismo
Contínuo no tempo
Integrado na dinâmica
Virtuoso no exercício
De ego consciente
Magnificente com sanidade
Em paz com a coletividade
De vitalidade orgulhante
Materializado na vida
Por uma gênese distinta

Ser ou não ser

Quis escrever um poema

Sobre a ansiedade de Jesus não retornar

Mas pensei

Que ele talvez nunca tenha partido

Ou ainda

Que talvez nunca tenha existido

E que não somos filhos de Deus afinal

Nem talvez seus inquilinos

Mas como párias que vagam pela destruição

Somos talvez

A única luz que exista

Maconha

Ela é como uma casa

Com um jardim bem bonito

E um tesouro escondido

Que não vê quem se atrasa

Ela é uma planta boa

No sentido de fazer

Pois a beleza é boa

Mais sensível pode ser

Ela revela a luz

E o espírito conduz

A um estado de luz

E a luz revela o ser

Para quem encontra o ouro

Ou a prata do tesouro

Para quem monta no touro

E consegue se entreter

Sua comunhão é dura

Leve é o seu desfrute

Ela é como uma casa

De suave atitude

.

Você espera minha presença
Em seu ambiente personalizado
Mas terá que viver sem mim
Sem minha atenção revigorada
Para te fazer suspirar pelo sufoco
Que te tira do caminho
Em que você me encontra

Correio nove

Ô menina prática
Você é simpática
E a sua mágica
É coisa lógica
Também tem a ótica
Sua sombra filosófica
Sua memória nostálgica
Sua rima sinérgica