Godofredo decidiu escrever sobre
si, e não escolheu pseudônimos. Fez uma pequena autobiografia reflexiva e
ponderou que a vida era uma questão de não se aperceber dela. Que a vida era
acessória ao próprio ato de viver e que viver não era essencial.
Godofredo não enxergava prazer ou
satisfação, mas não era caído à angústia ou ao desespero. Não se perguntava
sobre Deus ou sobre a existência e não fazia maiores reflexões sobre a morte.
Godofredo Buarque de Almeida
Didone não tinha amigos ou conhecidos e quando terminou a faculdade e abriu seu
próprio negócio tratava-o com a indiferença com que se tratava. Mas era cordial
com seus consumidores.
Godofredo não pensava em suicídio
e não era depressivo, mas calado e distante. Sua família morava longe e ele não
pensava em visitá-los. Guardava economias para a aposentadoria e pensava em se
aposentar cedo. Não tinha namoradas e não pensava em filhos ou animais de
estimação.
Godofredo não praticava esportes
e assistia pouco a televisão. Não navegava na internet e nunca teve um
videogame. Andava a pé e nunca havia ficado doente ou sofrido um acidente.
Godofredo Buarque de Almeida
Didone trabalhava quando sentiu uma pontada no coração. Pensou que era a idade
e decidiu ver um médico. O exame constatou nada de anormal, mas o médico
recomendou repouso.
Godofredo acordou tarde naquele
dia e pensou que havia nada pra fazer.