quarta-feira, 25 de abril de 2012

O corvo roxo

Meu desabafo
Acerca das coisas redundantes
Quando paro

Minha verdade
A soma de tudo
Quando vivo

Meu ponto de vista
Acerca de tudo e nada

Aquilo meu
Acerca de outra redundância
Outra repetição

Meu coração
Não sei por quê

Essa coisa
Essa coisa que não sei

Tudo bem
Essa coisa e algo mais

Esse algo
Aquilo que não contesto

Meu caminho
A placa de contramão

Meu todo
Meu sempre, meu nunca

Meu nada
Nada mais, nada além

Meu ego
Aquilo de que falava

sexta-feira, 20 de abril de 2012

The Raven

Era noite e eu era triste
Estudava outro chiste
Já caía de sono
Escutei uma batida
Repentina batida
"Deve ser uma visita
Só isso e nada além"

Se me serve a memória
Era frio em Dezembro
A lareira urdia quente
Era frio em minha mente
E eu tentava inutilmente
Esquecer minha tristeza
Esquecê-la e nada além

Farfalhou-se na cortina
Um terror intraduzível
Espalhou-se em minhas veias
Tal terror indescritível
"Deve ser a tal visita
É a tardia visita
Deve sê-la e nada além"

Proferi sem hesitar
"Queira tu me desculpar
Mas já caía de sono
Tu, então, me aparece
Levemente me aparece"
Abri a porta e fui olhar
Só a noite e nada além

Contemplando a escuridão
Sublimei meu coração
Só silêncio e solidão
Sussurrei o nome dela
Escutei o nome dela
Quando o eco sussurrou
Só isso e nada além

Retornei ao aposento
Suspirando o momento
Bateu-se na janela
Fui checar a janela
Para ver se alguém era
Predizendo tal mistério
"É o vento e nada além"

Eis que, enfim, a tal visita
Era um corvo, a tal visita
Tal qual um corvo etéreo
Não conheceu obstáculo
Tal qual um corvo fúnereo
Pousou-se sobre uma estátua
Lá pousou e nada além

Fitei tal admirado
Pelo todo imaginado
"Seu semblante é porfiado
Corvo vindo do além
Diga o nome que te chamam
Lá nas terras do além
Disse o corvo: "Nada além"

Parecia fantasia
Eis que o corvo respondia
Qual sentido haveria
Na resposta que dizia
Pois que um ser ali via
Um corvo que dizia
Chamar-se "Nada além"

Nada mais disse
Como se essa esquisitice
Fosse tudo que existisse
Fosse tudo que soubesse
"Lamento amigos partidos
Amanhã partes também"
Disse o corvo: "Nada além"

Como tudo se encaixasse
"Não há de ser seu gênio
Pode ser que seja a sombra
Do tempo em que foi a sombra
De alguém que deixou à sombra
Como se dissesse nada
Nada além"

Mas ainda admirado
Sentei-me à sua frente
Afundei-me em pensamento
A saber daquele momento
O que aquela ave da morte
A sombria ave da morte
Dizia com "Nada além"

Sentado pensando
Olhos funéreos me encarando
Tentando advinhar o enigma
Reclinei-me como convém
Com a luz delineando
Quem aqui reclinava
Não reclina e nada além

Condensou-se a atmosfera
Perfumou-se a atmosfera
Obra de magia etérea
"Deve ser uma consequência
Um ébrio efeito da consciência
Que quer se esquecer dela"
Disse o corvo: "Nada além"

"Profeta!" Eu disse
"Seja tu qualquer profeta!
Esteja aqui por ordem santa
Tenha vindo por impulso
Responda-me agora
Há graça a quem ora?"
Disse o corvo: "Nada além"

"Profeta!" Eu disse
"Seja tu qualquer profeta!
Pelo céu que nos rodeia
Pelo Deus que adoramos
Diga se há quem seja Esperança
Eu que clamo verdadeira Esperança"
Disse o corvo: "Nada além"

"Seja essa a despedida!"
Eu disse em justa medida
"Volte, enfim, pela saída
Leve embora tua pena
Leve embora essa mentira
Vá-te embora de minha vida"
Disse o corvo: "Nada além"

E o corvo continua
Nada faz e continua
Com seus olhos infernais
Como quem sonha sonhos infernais
E a luz lhe delineia sua sombra pelo chão
Quando eu parto do chão
Devo seguir - nada além

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Sem afeto

Mas eu te amo
Como se não te amasse
E não te amo
Posto que amo tanto
E eu te amo
Somente te amo

E se eu te amasse
Tanto pela vida
Que não houvesse vida
Que não houvesse algo
E se te amando
Eu não te amasse
E se o amor fosse problema seu?